Nas últimas semanas, a crise econômica ocorrida na Turquia se somou às incertezas
provocadas pela guerra comercial entre Estados Unidos e China, aumentando a
instabilidade do cenário externo, num contexto de expectativa de novos aumentos da taxa de juros internacional. O “estopim” dessa crise foi a sobretaxação das exportações de aço e alumínio daquele país por parte do Governo norte-americano, que colocou em risco sua capacidade de pagamento dos compromissos externos, levando à expressiva depreciação de sua moeda.
Situações como esta costumam gerar aumento da aversão ao risco por parte dos
investidores internacionais em relação às economias emergentes em geral, o que tende a
afetar de forma mais intensa aquelas que apresentam maiores fragilidades, como é o caso da Argentina. A dificuldade política de reduzir o excesso de despesas públicas, impulsionado durante a gestão Kirchner, de forma mais rápida, agravando os desequilíbrios das contas externas, provocou aumento da taxa de câmbio, obrigando o País a negociar um empréstimo com o Fundo Monetário Internacional.
O Brasil também se viu afetado, levando o Real a ter uma das maiores perdas de
valor dentre as moedas de países emergentes. Embora nosso país não apresente problemas nas contas externas, ao contrário da Argentina e da Turquia, adoece de preocupante desequilíbrio das contas públicas, que gera endividamento crescente do Governo, ameaçando sua solvência futura.
No período mais recente, porém, o comportamento da taxa de câmbio “se
descolou” da evolução da economia mundial, rompendo a barreira de R$ 4,00, devido à
divulgação da mais recente pesquisa de intenções de voto, que mostrou que os candidatos com as maiores intenções de voto não são aqueles mais comprometidos com a realização de reformas estruturais.
Por muito que a evolução da taxa de câmbio durante as próximas semanas passe a
depender mais fortemente dos próximos desdobramentos do cenário eleitoral, o
denominador comum com o “contágio externo” é a desafiadora situação fiscal do País.
De todo modo, o desequilíbrio das contas públicas é uma realidade que irá se impor
ao próximo Presidente, seja ele quem for, e, portanto, pode se esperar que haja algum
esforço de contenção das despesas durante sua gestão. Vale lembrar também que o Banco Central dispõe de quase US$ 400 bilhões de reservas internacionais e de um conjunto de instrumentos de intervenção no mercado cambial que podem minimizar as flutuações da cotação da moeda estrangeira, evitando seus efeitos negativos sobre os custos de produção e a inflação.
Análise da Conjuntura
1. Moeda, Crédito e Inflação
- Na última reunião do COPOM, o Banco Central decidiu manter a taxa básica
(SELIC) em 6,5% ao ano, reconhecendo que os efeitos altistas do aumento da
inflação, provocado pela paralização dos caminhoneiros, foram passageiro.
- Inflação, medida pelo IPCA, desacelerou entre junho e julho, corroborando a
visão da autoridade monetária.
- Crédito à pessoa física desacelerou durante junho, ao corrigirem-se os
valores pela taxa de inflação.
- Apesar da taxa básica continuar em seu nível mínimo histórico, o custo
médio do crédito concedido à pessoa física segue em patamares elevados,
enquanto a inadimplência apresentou leve redução.
2. Atividade Econômica e Emprego
- Atividade industrial registrou aumento em junho, na comparação com o
mesmo mês de 2017, revertendo parcialmente a forte queda observada em
maio, devido à paralização dos caminhoneiros.
- Confiança do consumidor registrou aumento em julho, em relação ao mesmo
mês de 2017. Há mais otimismo quanto ao futuro, mas, as famílias seguem
cautelosas para consumir.
- Taxa de desemprego diminuiu em junho, na comparação com o mesmo mês
do ano passado. A massa de rendimentos, que representa a renda total
auferida no mercado de trabalho, mostrou leve alta.
- Vendas do varejo apresentaram alta na mesma base de comparação,
explicada em grande parte pelo forte crescimento das vendas de
supermercados, motivadas por comportamento de estocagem por parte das
famílias, para prevenir um possível desabastecimento.
- Setor serviços surpreendeu, ao mostrar forte aumento mensal em junho,
ante queda registrada no mês anterior, retomando a tendência de
recuperação.
- Indicador de atividade do Banco Central (IBC-BR) apresentou alta em junho,
após sofrer, em maio, a pior queda desde 2003, porém ainda refletindo lenta
recuperação da atividade econômica.
3. Finanças Públicas
- Governo Consolidado (União, Estados, Municípios e empresas estatais)
apresentou o menor déficit fiscal primário (excesso de despesas não
financeiras sobre receitas) durante o primeiro semestre do ano desde 2015.
Também houve diminuição do saldo negativo nos últimos 12 meses
terminados em junho.
- Melhora relativa do resultado primário impulsionada por menor crescimento
das despesas em relação às receitas do Tesouro Nacional, além de resultados
positivos (excesso de receitas em relação às despesas não financeiras –
superávit fiscal primário) maiores do que os esperados para os estados e as
empresas estatais.
- Também contribuíram para essa melhora fatores não recorrentes ocorridos
em junho: ganhos com royalties do petróleo no mercado internacional e
pagamento do BNDES ao Tesouro.
- Pagamento dos juros da dívida pública aumentou em junho nos últimos 12
meses acumulados até este mês, devido às perdas do Banco Central com
operações de swap cambial.
- Resultado nominal, que inclui o primário e as despesas financeiras, ficou
menos negativo no acumulado do ano em relação a maio, porém apresentou
“rombo” maior em 12 meses.
- Expectativa do Governo e do mercado é de cumprimento da meta fiscal
anual de déficit primário de R$ 161,3 bilhões para o Governo Consolidado
com relativa “folga”.
- Setor Público não é capaz de gerar recursos para sequer pagar os juros da
dívida, levando à elevação de seu nível, que alcança patamares cada vez
maiores, pondo em risco sua solvência no longo prazo.
- Situação fiscal para o próximo Governo poderá ser ainda mais “apertada”,
pois o aumento contínuo das despesas previdenciárias ameaça o pagamento
de outros dispêndios essenciais, para que seja cumprido o “teto” de
crescimento dos gastos federais.
4. Setor Externo
- Balança comercial (diferença entre exportações e importações de bens)
apresentou saldos positivos(superávits) em julho e nos primeiros sete meses
do ano, porém bastante menores que os observados em 2017.
- Resultado mensal se explica pela contabilização de duas plataformas de
petróleo como importações fictas, enquanto no acumulado janeiro-julho
reflete a elevação das compras no exterior devido à recuperação da atividade
econômica.
- Exportações mostraram forte crescimento na mesma base de comparação,
explicado exclusivamente pelas vendas de produtos primários, enquanto os
embarques de produtos manufaturados e semimanufaturados recuaram,
devido, em grande parte, à crise argentina.
- Crédito à pessoa física desacelerou durante junho, ao corrigirem-se os
valores pela taxa de inflação.
- Apesar da taxa básica continuar em seu nível mínimo histórico, o custo
médio do crédito concedido à pessoa física segue em patamares elevados,
enquanto a inadimplência apresentou leve redução.
5. Síntese da Conjuntura Econômica
- Atividade econômica continua se recuperando, apesar dos percalços, em
ritmo extremamente lento.
- Inflação oficial (IPCA), em termos anualizados (12 meses) continua abaixo da
meta anual (4,5%).
- Perspectiva que esse cenário atual continue assim, até as eleições definirem
o rumo da economia.
- Aumento da arrecadação, combinado com alguma contenção das despesas,
permitirá o cumprimento da meta fiscal anual, porém esse resultado será
insuficiente para deter o crescimento do grau de endividamento do setor
público.
- Elevação das importações, em decorrência da recuperação econômica,
tenderá a diminuir o saldo da balança comercial, aumentando as
necessidades de financiamento externo do País, que, porém, deverão ser
satisfeitas “com folga” pela entrada de capitais financeiros de longo prazo.
Por IEGV - Instituto de Economia Gastão Vidigal