Temas em análise 341: Varejo surpreende em Janeiro, mas sem alterar a Tendência de Desaceleração

Varejo Surpreende em Janeiro, Mas sem Alterar a Tendência de Desaceleração

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em janeiro, as vendas do varejo restrito (que não incluem veículos, material de construção e “atacarejo”) registraram alta de 2,5%, em termos mensais, livres de efeitos sazonais, muito acima das expectativas de mercado (+0,4%). Na comparação com o mesmo mês do ano passado, houve expansão de 4,1%, e, no acumulado em 12 meses, o crescimento alcançou a 1,8% (ver tabela abaixo), coincidindo exatamente com nossa projeção (ver gráfico na página seguinte), ante 1,7% anotado na leitura anterior. As vendas do varejo ampliado (que inclui todos os segmentos) também apresentaram alta maior do que a esperada em todas as bases de comparação anteriores: mensal dessazonalizada (2,4%), interanual (6,8%) e em 12 meses (2,9%) - igualmente acelerando em relação ao crescimento observado em dezembro (2,4%).

Na comparação anual, a maior parte dos segmentos do varejo restrito mostrou aumento das vendas, destacando-se artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria; hiper, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo e equipamentos e material para escritório, informática e comunicação. As únicas quedas registradas corresponderam a outros artigos de uso pessoal e doméstico e livros, jornais, revistas e papelaria. No varejo ampliado, veículos e “atacarejo” foram responsáveis pelos maiores aumentos de volume comercializado, enquanto material de construção apresentou elevação menos significativa.

O desempenho do varejo mais forte do que o esperado em janeiro se explicaria pelos aumentos de renda provenientes do mercado de trabalho ainda aquecido, das maiores transferências de renda, e do reajuste do salário mínimo, num contexto de desaceleração da inflação. Também foram importantes as liquidações realizadas durante o mês, após um dezembro decepcionante, e a redução dos juros. Na comparação mensal, em todo caso, chama a atenção a grande diferença de resultados após a aplicação do ajuste sazonal.

Apesar dessa surpresa positiva, a perspectiva para 2024 continua sendo de desaceleração, na medida em que a renda cresça menos do que no ano passado, ao não contar com a contribuição expressiva do agronegócio. Além disso, as famílias permanecem com alto grau de endividamento, e a taxa básica de juros poderá fechar o ano em patamar ainda relativamente alto, ao persistirem as incertezas fiscais e externas. Todo esse cenário tem contribuído para diminuir a confiança do consumidor, cujas compras devem continuar se concentrando em itens básicos, tais como artigos farmacêuticos, supermercados e “atacarejo”. Por todos esse motivos, prevemos uma desaceleração nas vendas do varejo restrito durante os próximos meses, terminando o ano com crescimento de 1,1%.

 

 

 

 

 

 

 

Por IEGV - Instituto de Economia Gastão Vidigal