Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 1,0% em 2017, em linha com as expectativas dos analistas de mercado, após apresentar quedas consecutivas de 3,5% nos dois anos anteriores (ver gráfico abaixo).
A retomada do crescimento econômico é alentadora, pois significa a superação da pior recessão da história do País, porém, além de contar com uma base de comparação muito baixa, não é capaz de compensar as contrações sofridas em 2015 e 2016, fazendo a atividade retornar ao nível observado em 2011.
Em todo caso, o PIB do quarto trimestre do ano passado apresentou elevação mais intensa (2,1%), em relação ao mesmo período de 2016, sugerindo aumento de “tração” na recuperação da atividade.
Pelo lado da demanda, o consumo das famílias, que continua sendo o principal componente, se expandiu em 1,0% durante 2017, devido à recomposição da renda, em decorrência da redução da inflação, à maior geração de postos de trabalho e à expansão do crédito, com menores juros e prazos de financiamento mais dilatados. Também
contribuiu a renda extra de R$ 44 bilhões, injetada na economia a partir da liberação dos recursos inativos do FGTS. A retomada do consumo ocorreu, apesar do recrudescimento da crise política, que não abalou de forma importante a confiança do consumidor.
Por sua vez, o investimento produtivo e em infraestrutura (formação bruta de capital fixo) continuou em queda (-1,8%), porém de forma muito menos intensa do que nos dois anos anteriores (-10,3% e -13,9%, respectivamente). A queda desse tipo de despesa se deveu, em grande medida, à contração do setor construção, que ainda não se recuperou, apresentando queda de 5,0% e ao profundo corte sofrido pelos investimentos públicos, que fazem parte dos gastos discricionários do Governo. Vale destacar, porém, que a formação bruta de capital fixo mostrou elevação durante o último trimestre do ano passado, após 14 quedas consecutivas. De todo modo, a participação dos investimentos no PIB (taxa de investimento) voltou a cair, alcançando a mínima histórica de 15,6%, cada vez mais abaixo da média dos emergentes (25,0%).
Continuou havendo contração do consumo de governo (-0,6%), que corresponde fundamentalmente às despesas com servidores nas três esferas governamentais, maior à contabilizada em 2016 (-0,1%). Esse resultado denota o esforço fiscal realizado, ao estabelecer um “teto” para os gastos do Governo Federal, além da crise financeira vivida por vários estados e municípios. Apesar disso, na comparação com o terceiro trimestre do ano passado, livre de influências sazonais, houve ligeiro aumento desse tipo de dispêndio (0,2%).
O setor externo seguiu contribuindo positivamente para o crescimento econômico, com as exportações de bens e serviços crescendo 5,2% em 2017, em decorrência da recuperação da economia mundial e da elevação dos preços das
commodities agrícolas e minerais. Essa contribuição, contudo, foi bastante moderada, pois houve expansão quase da mesma intensidade das importações de bens e serviços (5,0%), impulsionadas pela recuperação do consumo das famílias, pela estabilidade cambial e pelas importações de máquinas e equipamentos.
Pelo lado da oferta, o maior destaque ficou por conta da produção agropecuária, que cresceu impressionantes 13,0%, devido ao recorde de produção agrícola, principalmente soja e milho, ocorrido no ano passado, beneficiado por sensível melhora nas condições climáticas. Na ótica da produção, esse resultado foi o principal responsável pelo crescimento de 1,0% do PIB, que,sem ele haveria aumentado somente em 0,3%.
Também merece destaque a recuperação dos serviços, o principal setor produtivo da economia, que avançou 0,3% em 2017, após dois anos consecutivos de queda (-2,6% e -2,7%, respectivamente), impulsionado pelo maior consumo das famílias, que resultou em expansão de 1,8% para o comércio atacadista e varejista.
A atividade industrial apresentou estagnação, após mostrar contrações nos três anos anteriores (-4,0%, -5,8% e -1,5%, respectivamente). O desempenho do setor foi afetado negativamente pelo maior custo de produção, devido à utilização das termoelétricas. O destaque positivo ficou por conta da atividade extrativa (4,3%), enquanto o pior resultado veio da construção civil (-5,0%).
Por último, vale mencionar que, enquanto o valor total da produção sem considerar os impostos (valor adicionado a custo de fatores), aumentou em 0,9%, os impostos o fizeram em 1,3%, o que implica em aumento implícito de nossa já muito elevada carga tributária.
Em síntese, o quadro acima consolida a retomada da atividade. A perspectiva para 2018 é de crescimento econômico mais “robusto”, podendo chegar a cerca de 3,0%, com expansão mais espraiada na indústria e nos serviços, já que a produção agropecuária não deverá mostrar aumento importante.
Por IEGV - Instituto de Economia Gastão Vidigal